26 de set. de 2011

Vol.ver



Quando me pego pelas mãos
                                     a sair sem rumo
e a cada passo, passar um futuro,
um volume qualquer me atinge as costas
e abre,
          objetivamente,
                um furo.

Suponho um tiro,
um ataque político
ou uma flecha indígena, ao acaso;

Penso em uma guerrilha urbana,
na violência do amor
ou em qualquer outro objeto pontiagudo.

                         Viro meu olhar,
a procurar a origem do disparo.

Não vejo um inimigo outro:

Desta vez, me deparo
com um exército,
formado
pelas armas
dos meus próprios rastros.

16 de set. de 2011

O Muro



Talvez, vai saber?
Eventualmente, sim.
É possível uma hipótese.
... Pode ser não é?
Ou isso, ou aquilo.
Ou não.
É uma probabilidade.
E se...?
É provável que seja outra coisa.
Tá embaçada. Peraí.
Acho que...
não sei.

Um Homem?

Um cão?

Um rato?



do livro Colírio, a sair.

Poema-crime


Têm sido as respostas.
               Mas,
não havíamos combinado
que apenas as questões
                       teriam como término um ponto de interrogação
                                                        ?

É nesta inversão que,
sem ao menos o porquê,
as provas se evaporam
e precipitam um delito,
                                 líquido
                                          e certo.

É o que se escreve, e não prescreve.

Quantos serão os cúmplices?

Eis a investigação da qual nos supomos isentos
        e
ao mesmo tempo
somos

           testemunhas oculares
           deste poema-crime

: um estranho elemento.


do livro Colírio, a sair em 2011, pela editora Patuá