6 de set. de 2010

A leitura de Poesia


Não é novidade dizer q o hábito leitura não faz parte da cultura brasileira. Segundo dados do MinC, lemos 1,8 livros por ano – número extremamente baixo, sobretudo se comparado aos de outros países: França (07 livros/ano); EUA (11 livros/ano); a Colômbia (2,4 livros/ano). 

As desculpas são várias. Umas válidas, outras nem tanto. Dentre o motivos, incluem-se a ausência de biblioteca nas cidades; falta de apoio nas escolas, que encaram a leitura como obrigatoriedade; alto índice de analfabetismo; escolaridade baixa; renda insuficiente; e a mais esfarrapada: livros estão caros.
Talvez por isso o brasileiro gaste R$ 30 por ano com livros - o q de fato permite comprar 01 ou 02 livros a cada 365 dias. Será?

Nesse fim de semana, com R$30 comprei 04 livros em sebos – e tive troco – dentre os quais Drummond ($7), Machado ($5), João Antônio ($5) e Haruki Murakami – mais recente – a $10. Duvidam? Entrem no estante virtual. Com os 3 de troco comprei uma Coca-cola (cara pra caramba, quase um livro), me arrependi, devia ter comprado uma água – duas, com 3 pilas - mas é q, com calor infernal que faz em Sampa, a gente não raciocina bem.

Assim sendo, a não ser q se considere o objeto livro mais importante q o texto escrito nele, a ponto de só negar o usado em detrimento de um novo, dizer q não lê porque o livro é caro é equiparável ao “ônibus quebrou” da desculpa ao seu patrão.
Não é mentira q o mercado editorial pega pesado nos preços – o Estado também não colabora: o livro é sobretaxado demais. Mas, é bem estranho ouvir aquela desculpa se, para continuar com índices e pesquisas, no Brasil gasta-se U$$ 42 por mês com celular , o q a meu ver indica q a fator dinheiro não é tão significativo assim.

O fato é q preferimos passar horas em frente à novela da tevê, o filme no cinema (nem sempre de boa qualidade), ou ouvindo música a “perder” horas lendo um Dostoiévski, um Cony, João Ubaldo ou mesmo um Dan Brown e etc. (a discussão sobre best-sellers fica pra outra postagem..).
Se atentarmos para a situação da poesia então...uhmm...é bem difícil. Não bastasse a Literatura como um todo estar for dos costumes tupiniquins, a poesia tem um lugar específico dentro dessa exterioridade.
É um gênero literário que demanda certo conhecimento da tradição poética, dos percursos por ela percorridos, os valores de cada época para então se aprender a ler poesia. Caso contrário, o q se terá será a estranheza a cada poema lido. 

Lembro-me, por exemplo, de q eu não entendia porq q, sendo “tudo poemas”, Camões escrevia tão diferente de Bandeira. Por q que em Olavo Bilac, os sonetos eram fechadinhos e em Drummond sequer havia rima no fim do verso; e por q q Bocage falava tanto em relva, pastores, ventos tenros, mas Camões não, se os dois compunham sonetos. Isso me fez prejulgar os poetas e embutir valores anacrônicos a cada um. Resultado: deixei de ler muita gente boa.

É q, além disso, ler um poema demanda um pouco mais que apenas vontade. Requer disponibilidade e paciência. Não é na primeira leitura q se entende esse texto – e ninguém garante q será na décima, décima-primeira...
O poema desafia: A decifração das imagens, o reconhecimento dos artifícios linguísticos, a associação a nossa própria vida. É um tipo de desafio q espanta aqueles q preferem a facilidade de uma telenovela, por exemplo, q, vá lá, não exige quase nada de seu expectador, além de ter visão e audição. E, no ambiente socioeconômico em q vivemos, no qual toda atitude deve gerar um produto imediato que supere a perda de tempo e, se possível, dê lucros, a leitura q não cumpre esse papel é descartada. Sobretudo se for aquela q é encarada como um “enigma”.

Se eu posso ver o filme Ensaio sobre a Cegueira, em vez de ler o livro, por q não? se eu posso trocar o fácil pelo difícil, pra que optar pela “pulga atrás da orelha?”.

Até porq, como diria Paul Valéry, “nos sentimos mais confortáveis ao negar a dúvida”.
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2 comentários:

  1. Se os links não abrirem, retire a primeira parte do URL - "http://www.blogger.com/..."

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  2. Ola Israel, primeiro me sinto lisonjeada pelo seu interesse em clicar no meu blog, principalmente por alguém que preza tanto a leitura, como pude perceber na sua última postagem.
    Muito bom texto sobre os motivos deste povo brasileiro não gostar de ler. Tenho dois filhos em idade escolar, percebo que na era da internet, dos jogos de playstation, dos gamers, do esporte (que não tiro de forma nenhuma seu valor), a juventude está deixando de ler.Eu cresci lendo e não que em minha família eu tenha grandes exemplos de leitores, pq não os tive mesmo. Somente minha avó que realmente gostava de ler.Às vezes imagino que o hábito de gostar de ler, está no sangue. Pq quem não gosta de ler, não entra mesmo em uma livraria para gastar dinheiro com cultura. Prefere um chopp, uma balada, nao que eu não goste.Fico pensando tmb que o maior reflexo da baixa vontade de ler é a escrita. Fico pasma como andam escrevendo por aí.
    Não sei tmb se o poder de fazer ler está nos pais, na família, na escola. Eu não sei onde está.É certo que as editoras super valorizam seu autores famosos, cobrando preços caros realmente. Mas nada que impeça de ir ao sebo como vc mesmo falou.Mas ainda assim penso quanta gente compra livros de capa bonita e os deixa enfeitando na estante.
    A maior prova de falta de leitura é a ignorância mesmo, aquela que vemos pessoas que frequentam a escola com os maiores erros de português, aqueles absurdos.

    abraços.

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