Essa frase foi dita por Ferreira Gullar, em uma das mesas da FLIP 2009. Em ocasião posterior, Gullar disse que se referia ao embate judáico-palestino, e comparou-o com sua relação conjugal:
“Israelenses e palestinos têm que parar de discutir. Passado é passado. Enquanto quiserem ter razão jamais farão as pazes. É que nem com a minha mulher, Cláudia. Brigo com ela, provo que estou com razão, ela sai irritada (eles moram em casas separadas), passa três dias sem me ligar, fico aqui cheio de razão, triste pra caramba. Brigo com a pessoa que amo, que me dá alegria, para ter razão? Eu quero é ser feliz.”
A frase é genial pois, além de opor duas coisas que não são antônimas - o q causa um efeito extraordinário em quem a ouve ou lê -, indubitavelmente, instiga uma discussão sobre essa mesma oposição q a estrutura da frase sugere: a razão é causa da infelicidade.
De fato, muitas vezes, pela mesquinhez de não se “dar o braço a torcer”, alimentamos uma desavença cujo término só chega pela capitulação de uma das partes. No caso dos judeus e palestinos, por envolver não apenas a questão territorial, mas também a fé, essa rendição é mais complicada, por isso o fracasso das diversas negociações de paz por q passaram. No entanto é um exemplo de como a defesa da razão (entenda-se “a razão de cada um”) principia um conflito.
Já em relacionamentos, como explicitou o poeta, a gente briga – com razões (são sempre duas) – fica um de cara feia pro outro - infelizes.
Mas o q acontece boa parte das vezes, e q não está no no pequeno relato do Gullar, é q, depois dos “três dias sem ligar”, um dos dois resolve retomar a discussão – e geralmente é aquele q reconhece ter extrapolado na defesa de sua razão e admite a razão d@ companheir@.
Se é assim, então sugerir ser necessário deixar a razão para se ter felicidade me parece um equívoco.
Pergunto, por exemplo - pra retomar o enunciado do Gullar –: O q geraria aquela infelicidade: a razão de um, ou o não reconhecimento desta pelo outro?
É claro q definir razão não é fácil: é subjetivo e muitos consideram q ela nada mais é q a boa manipulação de palavras e persuasão na linguagem e, fora isso, não existe enquanto tal.
Não vejo assim!
E acho q dizer q a razão 'não existe' é admitir nunca ter precisado pedir desculpas.
O fato é q estamos tão vinculados a um Way of Life em q a individualidade se tornou uma espécie de egoísmo e, com algumas exceções, sequer conseguimos nos por em um lugar q não seja o nosso - e esse é o único lugar cuja passagem de ida o dinheiro não compra.
É um estado de coisas em q o mais importante é o resultado – positivo, claro –, e nesse sentido, não há espaço para a admissão de um erro – pois seria admitir uma 'derrota' (que nem existe). Assim, ficar com sua razão seria mais confortável.
Brigar, a gente também briga (como diz Zé Simão: “Trisca pra ver o q acontece”), pois acho q quem não defende seu ponto de vista expõe certa covardia. Brigo... até certo ponto.
Com a Li também é assim: a gente sai no verbo (em oposição a “sair na mão”) – afinal eu sou o Israel e ela sempre dá um jeito de ser a “Palestina” -, mas no final das contas, tentamos ver o erro de um ou de outro e encerrar nossa pequena intifada, sem, contudo, abrir mão da razão.
Por que a razão existe sim: está no termômetro da ignorância, no paquímetro da raiva, na balança das palavras – e às vezes, no pluviograma das lágrimas.
Está, meus caros, no reconhecimento de sua perda.
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