Minha vida é sua. Sua privacidade é minha – com o borbulhar das redes sociais, o “universo particular” se reduz a uma viela individual a que só temos acesso pela porta do quarto. Saber o que o outro fez, faz e fará é fato comum com o qual nos deparamos diariamente, acostumados à exposição que cremos instigar a interação com a “audiência”. Por quê? Difícil explicar e entender. O fato é que existe uma necessidade comum a quem se presta a essa atitude: dividir. Ler e se fazer ler desperta a sensação de que estamos dialogando com alguém – ainda que fisicamente distantes – e assim, somos vistos, notados, percebidos por outro: damos concretude ao ato de ser.
Longe de parecer exagero, pode-se entender que há implícita (ou não) nessas “redes”, uma carência, digamos, existencial, na medida em que atribuímos (a razão de) nossa existência ao reconhecimento dos nossos pares. Se não isso, o que? Entretenimento? - não creio. O que explicaria, por exemplo, a postagem de um famoso verso, com cuja ideia ali expressa concordamos, se não mostrar nossas ansiedades, convicções, sensações e até mesmo fragilidades? É justamente a exposição dessas características que me faz acreditar na carência supramencionada.
Clarice Lispector dizia que “amar é dividir com o outro aquilo que a gente não tem” (frase que aliás já postei no meu profile em outrora), e talvez por uma relação de amor – ou quem sabe ódio – à vida, tentamos amenizar certos impactos por meio da partilha.
Condenados a ser livres – como disse Sartre – procuramos pela alteridade nos construir como sujeitos. Sujeitos imersos em uma solidão compartilhada.
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